Além de ser um procedimento altamente efetivo na redução do açúcar no sangue, a cirurgia metabólica atua também no controle da pressão arterial, o que é fundamental em pessoas com diabetes tipo 2.
Você já deve ter ouvido falar que estamos vivendo epidemia de obesidade.
Mas será que isso é verdade?
Quando olhamos de perto os números relacionados ao avanço da obesidade no Brasil e no mundo, percebemos que, de fato, eles vêm crescendo.
Vamos iniciar com os números globais:
- Em 2016, aproximadamente 14% da população mundial era obesa – considerando que essas pessoas possuíam um IMC (Índice de Massa Corpórea) igual ou superior a 30 Kg/m2.

Esse é um número bastante alto, considerando o risco que a obesidade representa para a saúde.
Por conta disso, alguns países passaram a considerar a obesidade uma epidemia.
A notícia de uma “epidemia de obesidade” repercutiu em diversos meios de comunicação, trazendo grande visibilidade para o problema.
Diversas campanhas foram realizadas com o objetivo de alertar as pessoas sobre os riscos da obesidade; todavia, os números continuaram a aumentar mais e mais.
Mas porque o mundo está cada vez mais gordo?
É importante lembrar que a obesidade tem uma relação direta com o estilo de vida.
Alimentação, atividade física, stress.
Tudo isso contribui e cada dia estamos comendo mais comida processada, rica em calorias.
A cada momento fazemos menos esforço físico e temos mais preocupações.
E o estilo de vida é uma coisa muito difícil de mudar.
Por conta disso, ainda não foi possível conter o avanço global da obesidade.
Pelo contrário, ao que tudo indica, esses números ainda vão continuar aumentando.
Segundo as projeções atuais, 20% da população global será obesa no ano de 2025.
Estes números, que já são muito altos nos países desenvolvidos, crescem também nos países pobres.
Passaremos de 14% para 20% de obesos em menos de 10 anos.
Um número, que na escala global, representa milhões de pessoas.
O que nos faz pensar que de fato seja verdade: estamos passando por uma epidemia de obesidade: é o que estão chamando de ”Globesidade”

Doenças Associadas à Obesidade
Mas se a obesidade em si já é um problema para essas pessoas, o que se dirá da saúde das pessoas obesas?
Nesse ponto, as perspectivas são ainda mais preocupantes.
Hoje se sabe que o crescimento dos casos de obesidade está diretamente relacionado ao aumento de diversas doenças, como a hipertensão e o diabetes tipo 2.
São doenças perigosas, que, em conjunto, representam um sério risco para a saúde.
Isso porque elas aumentam o risco cardiovascular dos pacientes, resultando em taxas de mortalidade e morbidade mais altas entre esse grupo de pessoas.
Como podemos ver, hoje, 7% de todas mortes são atribuídas ao aumento do peso em pessoas com o IMC (Índice de Massa Corpórea) igual ou acima 25 kg/m2.

Obesidade e Pressão Alta
A pressão arterial, assim como o diabetes tipo 2, também é um problema decorrente da obesidade.
A pressão arterial é considerada alta quando os valores ultrapassam 14/9.
No Brasil, aproximadamente 26% da população tem pressão alta.
O que torna esse número motivo de grande preocupação é que a pressão alta é responsável por 40% dos infartos e 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) ou “derrames”.
Além disso, a pressão alta é motivo de 25% dos casos de insuficiência renal terminal, situação na qual os rins param de funcionar e que leva à necessidade de diálise ou até transplante renal.

A obesidade também é alta no Brasil.
Com 19% da população obesa (IMC – Índice de Massa Corpórea igual ou superior a 30 kg/m2. (Vigitel 2016) – o Brasil também possui altos índices de obesidade entre a população.
E, como sabemos, obesidade e pressão alta não combinam, pois existe uma relação muito próxima entre obesidade, hipertensão e risco de vida.
Mas o que pode ser feito para combater a obesidade e as doenças associadas?
É isso que veremos a seguir.
Estratégias de Combate à Obesidade
Como acabamos de ver, os números atuais apontam para o crescimento da obesidade e das doenças associadas, principalmente o diabetes tipo 2 e a hipertensão.
Este talvez seja o grande desafio da humanidade neste século, pois, diferente das campanhas para redução do tabagismo, é muito complicado abordar de forma eficiente a redução da quantidade e a melhora da qualidade dos alimentos ingeridos.
Comer, ao contrário de fumar, é da natureza dos seres humanos.
E a indústria de alimentos produz comidas cada dia mais saborosas e atraentes, a grande maioria recheada de gorduras e açúcares, deixando-as ainda mais calóricas e engordativas.
Por isso, é importante elaborar estratégias efetivas no combate a essas doenças.
Essa abordagem deve se dividir em 3 frentes:
- Elaborar um projeto multidisciplinar de saúde pública com o objetivo de conscientizar e prevenir a obesidade e a hipertensão;
- Elaborar campanhas de incentivo à prática de esportes e atividade física, fornecendo a segurança e as ferramentas para a população se engajar nisso;
- Proporcionar tratamento adequado para os indivíduos que já estão doentes.
Cirurgia Metabólica: Tratamento da Pressão Arterial e Diabetes Tipo 2
Existem hoje diversas maneiras de tratar a hipertensão e o diabetes tipo 2.
Dentre esses tratamentos, qual é o mais indicado?
Com o objetivo de responder a algumas dessas perguntas com o uso de dados científicos, idealizamos o Estudo GATEWAY.
O objetivo do estudo foi avaliar quantos pacientes conseguiriam reduzir o número de medicações em pelo menos 30%, mantendo a pressão controlada (<140/90 mmHg)
Para isso, recorremos a dois tipos pacientes obesos, ambos com doenças associadas, como hipertensão:
- Obesos grau 1 (IMC entre 35 e 39,9Kg/m2)
- Obesos grau 2 (IMC ≥ 40Kg/m2)

Eles foram avaliados com o uso de, no mínimo, 2 medicações anti-hipertensivas.
Depois, eles foram divididos em dois grupos:
- 50 pacientes se mantiveram com tratamento clínico;
- 50 foram submetidos à cirurgia metabólica (Bypass em Y de Roux).
Os resultados foram surpreendentes:
- 83,7% dos pacientes operados conseguiram esta redução;
- 12,8% no grupo controle (tratamento clínico) puderam reduzir o número de medicamentos.

Além disso, observamos que 51% do grupo operado conseguiu o controle da pressão após 1 ano sem uso de medicações.
Chegamos a essa conclusão através da avaliação de vários parâmetros clínicos e laboratoriais em nossos pacientes, como:
- Perfis glicêmicos;
- Lípides;
- Perfil inflamatório.
O grupo cirúrgico mostrou melhor controle de todos após 1 ano de seguimento.
Conclusão
Vários estudos já mostraram a segurança e eficácia da cirurgia metabólica no tratamento dos pacientes obesos com doenças associadas.
Nosso estudo veio corroborar a segurança e eficácia da cirurgia bariátrica/metabólica nos pacientes hipertensos, pois além dos resultados descritos extremamente positivos no controle das doenças e da obesidade, não observamos nenhum caso com complicação cirúrgica grave ou óbito.
Assim, é possível concluir que através de um trabalho conjunto entre cardiologistas e cirurgiões, além da equipe multidisciplinar, é possível ter sucesso no tratamento de pacientes com doenças graves como a obesidade e a hipertensão.
Essa matéria foi feita com base no artigo do Dr Carlos Aurelio Schiavon – Cirurgião Bariátrico , membro titular da SBCBM e pesquisador do Hospital do Coração, atuando principalmente nos seguintes temas: hipertensão arterial e cirurgia bariátrica.